O Instituto Hercílio Randon (IHR) é uma das mais jovens instituições de pesquisa brasileira, mas é uma das mais ágeis. É isso que tem colocado o instituto lado a lado na corrida para obter aportes para ampliar as pesquisas focadas na área da indústria. Em menos de dois anos de fundação, o IHR acumula mais de 100 projetos e R$ 9 milhões de incentivos públicos.

Na última semana, o IHR inaugurou a sede administrativa e de pesquisa de novos materiais no bloco M do campus-sede da Universidade de Caxias do Sul (UCS). A seguir, o diretor técnico do instituto, Joel Boaretto, destaca por que acredita que a aproximação física com centros de formação é crucial para garantir o futuro das empresas:

Em quase dois anos de atividades, quantos projetos já foram desenvolvidos pelo IHR?

Conseguimos criar um hub de ciência e tecnologia que contribui para um ecossistema de inovação bastante complexo. Hoje são mais de 400 empresas conectadas conosco, são mais de 250 pessoas envolvidas nos projetos, dentre eles, mestres, doutores e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento. Temos como premissa não duplicar estruturas, encontramos clusters (grupos) de inovação que têm expertises específicas e potencializamos o ecossistema por meio de pesquisas. Trabalhamos neste período com mais de 100 projetos e alguns deles conseguiram se tornar produtos ou, até mesmo, empresas como o caso da Nione (unidade de nanotecnologia da Randoncorp).

O próprio instituto tem um caráter quase de startup?

É, realmente, muito interessante  a dinâmica do instituto, porque nos especializamos em transformar a ciência em nota fiscal. Somos apoiados pela Randoncorp e essa conexão nos permite atuar em pesquisas disruptivas, porém, com aplicações direcionadas.Trabalhamos com toda a cadeia de desenvolvimento de tecnologias em que as pesquisas vão do TRL (que vem do inglês Technology Readiness Level para destacar o nível de maturidade do projeto) mais baixo até o grau nove, que ocorre dentro da indústria. E o que é interessante para nós? É que estamos inovando na tradição, potencializamos todo o conhecimento atual das empresas que compõem a Randoncorp e agregamos novas tecnologias alinhadas com as megatendências da indústria automotiva.

Vocês acabam de inaugurar uma das sedes do instituto dentro de uma universidade. O que isso significa?

Significa uma conexão, fazer parte e potencializar um ecossistema no qual nós estamos inseridos, e a UCS é uma geradora de capital intelectual, de formação de pessoas. Estar inserido aqui tem um caráter institucional e reafirma o nosso propósito, que é formar e preparar pessoas, muito mais do que desenvolver tecnologias e produtos. Quando estamos inseridos num ecossistema como esse,  dentro da UCS ou mesmo em outras universidades, procuramos pesquisadores de referência e áreas de excelência. E aqui nós encontramos áreas de excelência nas engenharias, na área de materiais e na área da saúde.

A maior parte das pesquisas está em que área?

Nós trabalhamos hoje com três verticais do conhecimento, que são eletrônica embarcada,  a área de mobilidade e materiais inteligentes. Materiais é a vertical que possui o maior número de projetos, justamente por ser uma disciplina que interage com todas as demais frentes de pesquisa. Costumamos frisar que "tudo passa por materiais". O nosso propósito não é deixar o que existe um pouquinho diferente. É trazer, para as empresas que nos patrocinam e para a nossa região, uma nova visão. Nossa pesquisa está direcionada para um outro horizonte, justamente para que possamos trazer tecnologias, como a própria eletrificação, como materiais inteligentes e nanotecnologia, para fomentar a indústria que temos aqui.

Quais projetos serão lançados?

Nós temos grandes avanços na área de tintas, com nanomateriais. São tintas à base d’água, que possuem um apelo ambiental e com grandes capacidades de resistência à corrosão. Não era possível atingir esses níveis de resistência sem a integração da nanotecnologia. Também vamos apresentar mais materiais compósitos estruturais (feitos de mais de uma matéria). As principais novidades estão em materiais, na  área de cobertura de superfície e compostos estruturais.

Onde estarão as aplicações?

Na área de tintas, com certeza, será em autopeças da Randoncorp. Na parte de compósitos, com parceiros, por meio da Composs (nova marca de soluções da Frasle Mobility).

Qual é o maior desafio para o futuro das empresas?

O grande concorrente das empresas hoje não é o seu concorrente direto, costumamos dizer que o grande desafio das empresas está representado na falta de capital humano. Estamos falando de pessoas com uma formação adequada, com um conhecimento específico para que essas tecnologias disruptivas realmente se tornem realidade… Os veículos elétricos estão aí, e como estão sendo preparados os novos "mecânicos" para eles? E as pessoas que farão o conserto desses veículos quando passar o período de garantia, como estão sendo formadas? Qual o plano de estrutura física e de pessoal qualificado para essa nova demanda de mercado? Então, a formação de capital intelectual para trabalhar com essas tecnologias passa a ser o grande desafio. Dizemos que o profissional do futuro já nasceu, precisamos nos preocupar na formação dos gestores que direcionarão esses novos talentos, o gestor do futuro também precisa nascer, rápido! Precisamos conectar as pessoas com um propósito para que não haja mais a fuga de capital intelectual para o exterior e fazer com que esses pesquisadores permaneçam aqui criando tecnologia em solo pátrio e disseminado tecnologias. Eu acredito que esse é o grande desafio hoje para as empresas, ser atrativas, conectar valores e criar propósitos para que o capital humano se interesse e continue pesquisando para potencializarmos a nossa  indústria.